O CAMINHO DAS MÃOS VAZIAS
Havia em certa cidade havia um professor de Karatê muito famoso por
suas exigências. Os alunos que com ele treinavam, sempre ganhavam
alguma colocação nos diversos torneios que a Federação organizava.
Apesar disso, o que mais havia nesse Dojô eram faixas brancas e alguns poucos
Faixas Pretas.
Certa vez um aluno já desanimado pela rigidez dos treinamentos e pelas exigências
do seu professor que, segundo seus pensamentos não recompensava seus
esforços satisfatoriamente, resolveu parar com seu treinamento e abandonar o
Karatê.
Entretanto, antes de abandonar os treinamentos, ele foi dar uma satisfação ao
seu professor, haja vista que, pelo menos respeito, honestidade e fidelidade ele
achava que tinha aprendido, durante os longos anos que ali praticara.
Então, como de costume, colocou seu Karatê-Gi e diante do seu professor começou a manifestar seus motivos de abandonar os treinamentos:
- Oss, Sensei! Resolvi que vou parar de praticar Karatê...
- Sim?
- Eu acho que não levo jeito para isso...
- Sim?
- Já faz vários anos que aqui estou e ainda não consegui galgar nenhuma graduação...
- Sim?
- Veja Sensei, já estou aqui a mais de quatro anos e ainda não sai da faixa branca!
- Sim!
- Sei que tenho muito o que aprender ainda, mas tenho ido aos torneios e tenho
vencido muitos Karatekas bem mais graduados que eu, não falto as aulas,
tenho estudado o Karatê e mesmo assim, continuo na faixa branca...!
- Sim?
- Então resolvi ir embora, vou procurar outra coisa na qual eu consiga evoluir.
- Sim... Se você vai mesmo embora, não esqueça de apanhar seus documentos e as
fotos que tiramos todos juntos que estão na sua pasta arquivada no nosso escritório.
- Obrigado por tudo Sensei e até mais! Oss!!
Então o aluno fez uma profunda reverência ao seu professor e com o coração
apertado dirigiu-se ao escritório e falou com a secretária:
- O Sensei mandou você entregar-me os documentos e fotos que estiverem na
minha pasta.
Então a secretária entregou-lhe um envelope pardo e o aluno dirigiu-se ao
vestiário para trocar de roupa quando, por curiosidade, resolveu olhar o que havia
no envelope.
Quando ele abriu o envelope, seu coração quase parou. Juntamente com as fotos
de seus colegas, momentos de alegria etc., lá encontravam-se seis certificados
de graduação até a faixa marrom. Todos preenchidos com o seu nome, datados
nas respectivas carências e devidamente assinados e registrados na Federação.
Nesse momento foi como se o chão e o céu se abrissem e ele compreendeu que a cor
da faixa não significa nada e com os olhos cheios de lágrimas retornou ao Dojô,
onde seu professor o recebeu como se nada houvesse acontecido, alinhando-se no
lugar de sempre, mas agora de sua face resplandecia uma grande serenidade.
Durante algum tempo esse aluno ainda usou sua velha e já encardida Faixa
Branca, tendo-a trocado pela Faixa Marrom apenas no momento de prestar
exame para Faixa Preta junto a uma banca da Federação, onde foi aprovado
com louvor.